As 3 Razões da Crise Financeira - 1ª Razão
« Para melhor entendimento do actual mundo financeiro»
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O que circula pela Net…
A informação que a informação não dá sobre a crise do – subprime. .
Artigo do semanário alemão "Die Zeit" – Para onde foi o dinheiro?
(extenso, abrangente e explicativo do crash de Outubro de 2008)
Sábado, Dezembro 20, 2008 14:19
Die CRASH DIE ZEIT, 27.11.2008 Nº. 49
[http://www.zeit.de/2008/49/DOS−Wo−steckt−das−Geld]
de Kerstin Kohlenberg e Wolfgang Uchatius
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"A crise financeira destruiu enormes fortunas. Os milhares de milhões de Euros não desapareceram, mas estão a ser redistribuídos. O rastro do dinheiro leva-nos às empresas de construção americanas, aos gestores bancários alemães e aos novos investidores chineses.
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“Na tarde do dia 31 de Outubro, no 2º. andar de uma moradia pintada de amarelo, no centro de Frankfurt, um fax começa a imprimir. Sai um total de 5 páginas. Na primeira página lê-se o cabeçalho do Commerzbank, na última a assinatura do Presidente do Conselho, Martin Blessing. Algures pelo meio encontra-se o número decisivo: 8,2 mil milhões de Euros. É este valor elevado que o Commerzbank pede à República Federal da Alemanha, representada pelo grupo "Soffin", o fundo extraordinário criado recentemente para a estabilização dos mercados financeiros.
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Na manhã do dia 17 de Novembro às 9H30, o Presidente do Conselho da Hypo Real Estate, Axel Wieandt, que se encontra na sala de conferência perto do Englischer Garten em Munique, agarra o telefone e fala com analistas financeiros de todo o mundo. Durante uma hora e dois minutos Wieandt relata sobre o que se passa no banco. O resumo: 3,05 mil milhões de Euros de prejuízos no terceiro trimestre de 2008.
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Na noite do dia 19 de Novembro Josef Ackermann, o chefe do Deutsche Bank, encontra-se na periferia da zona governamental em Berlim, na sala da Academia Católica, sentado num cadeirão azul claro perante 300 pessoas a quem diz que "esta é praticamente a primeira crise global e ainda nos encontramos na fase de gestão da crise".
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Quanto tempo durará esta crise? De acordo com a estimativa do Banco da Inglaterra os institutos financeiros em todo o mundo já perderam 2,8 bilhões de dólares. São 2800 mil milhões, o valor equivalente de 140 milhões de modelos VW Golf. Diz-se que o dinheiro "se evaporou", "desapareceu". E continua a perder-se dinheiro. A que montante ascenderá o prejuízo? Quantas falências se seguirão? Quantos mais bancos e grupos industriais terão que ser auxiliados pelo Governo? Ninguém sabe. No entanto a pergunta provavelmente mais interessante já tem resposta.
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Para onde foi o dinheiro?
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Os milhões desaparecidos transformaram-se em mármore no deserto do Nevada.
Esta pergunta é o início de uma longa viagem pelo deserto americano, pelo sistema bancário em Frankfurt e pela gestão de fundos na China. O Primeiro-ministro italiano, e empresário dos meios de comunicação social, Sílvio Berlusconi também surge na história, assim como uma pensionista alemã, que teve a sorte de não perder um único Euro na crise financeira. Esta senhora também desempenha um papel importante na crise, pois nestas semanas tem ajudado a salvar o mundo com o seu dinheiro, apesar de não fazer a mais pequena ideia disso.
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Durante a busca do rastro do dinheiro será demonstrado que é raro o este desaparecer para sempre e pouco provável que ele se queime. No entanto veremos que muda de proprietário com elevada frequência.
Onde está então o dinheiro? Onde estão os 2,8 bilhões de dólares?
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Existem muitas pessoas na Alemanha a quem poderíamos fazer esta pergunta: economistas, conselheiros financeiros, gurus da bolsa. Há um homem que parece estar mais apto para responder do que a maioria, porque, aparentemente, é um dos poucos que realmente percebeu os acontecimentos no mercado nos últimos anos.
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O homem chama-se Max Otte. Ele acaba de chegar de uma palestra em Frankfurt, amanhã voa para Viena onde aparecerá em televisão. Pelo meio tem uma tarde livre. Actualmente, Otte é muito requisitado. Ele entra no seu apartamento no centro de Colónia, tira o seu casaco e desaperta a gravata. Tem 44 anos e é de estatura baixa e corpulenta. Ainda há dois anos era um professor de economia desconhecido e leccionava no Politécnico (Fachhochschule) em Worms. Quando ligava a televisão via, de vez em quando, outros professores de economia, que não leccionavam no Politécnico, mas nas Universidades. Faziam quase sempre afirmações sobre o crescimento contínuo da economia e dos valores das acções.
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Otte defendia uma opinião contrária e estava convencido que o mundo caminhava para uma catástrofe económica.
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Decidiu escrever um livro no qual previa a queda nas bolsas, o colapso das bancas e a potencial insolvência do maior grupo americano de construtores de automóveis, a General Motors. "Se ler correctamente os sinais que a economia mundial nos transmite, haverá um enorme estrondo", escreveu Otte. Deu ao seu livro o título de "O crash vai chegar" (título original Der Crash kommt). Otte passou a ser o homem que sabia tudo. Já vendeu 200.000 exemplares e a versão em chinês já está a ser editada.
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Para onde foi o dinheiro? Otte fica a pensar e diz: "Se quiser saber para onde foi o dinheiro terá que viajar para a os subúrbios das grandes cidades na América. Tem que ver as casas." Por exemplo este: Mantua Avenue nº. 70, na pequena cidade de Henderson, estado do Nevada. Sobre o palacete paira um toque da Toscana com telhas redondas de barro, obturadores em madeira, uma varanda coberta e pequenos pinheiros no jardim. Olhando para o horizonte avistam-se os casinos de Las Vegas a brilhar. Olhando em redor vêm-se muitos palacetes, uns ao lado dos outros.
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A povoação chama-se Inspirada. Existem centenas de casas desabitadas, centenas de estruturas e dúzias ge estradas, como a Via Delle Arti Street ou Palazzo Reale Avenue. Estas estradas pretendem levar um pouco da Itália para a América, mas levam todas ao deserto. Esta terra era precisamente isso – deserto – antes de uma empresa imobiliária americana, a Toll Brothers começar a esbanjar o dinheiro aqui, num monte de areia com alguns cactos.
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Este boom imobiliário prolongou-se por dez anos, os créditos foram atribuídos a quase toda a gente. Foram investidos 550 milhões de dólares no terreno perto de Las Vegas, 790 hectares, do tamanho de 1400 campos de futebol. Outro tanto foi gasto para abrir caminhos, estradas e esgotos. Uma vendedora exageradamente maquilhada abre a porta da casa Toscana nº. 70. Trabalha para os irmãos Toll há dez anos. Dez anos em que ela e Las Vegas viviam bem. A vendedora aponta para o chão em mármore de 15.000 dólares, para a superfície de trabalho em granito de 1.300 dólares, para as escadas em cerejeira de 3.500 dólares e para o jacuzzi na casa-de-banho de 1.250 dólares.
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"Meu nome é Bob Toll." Ouve-se a voz vinda de um televisor na sala de estar. No plasma gigante passam inúmeros vídeos de vendas dos Toll Brothers. Clientes satisfeitos relatam sobre a felicidade de viverem em casas de sonho.
O valor pedido pelos Toll Brother ascende aos 600.000 dólares, diz a vendedora. Também avisa que há margem de negociação, pois pretende-se apenas reaver os custos. Mesmo assim não aparecem compradores, nem para as casas nesta rua, nem em qualquer outra. O dinheiro dos irmãos Toll está preso nas casas.
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Portanto, podemos encontrar a primeira resposta à pergunta sobre o paradeiro do dinheiro na cidade fantasma perto de Las Vegas: só no estado do Nevada estão 22 mil casas à venda. Em todo o país existem 4,67 milhões de casas e apartamentos desabitados. Ninguém os quer. Custaram uma média de 212.000 dólares o que perfaz um total de 990 mil milhões de dólares presos nas paredes e no chão.
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Ao longo de dez anos as empresas de construção americanas edificaram continuamente centenas, milhares de casas denominadas de McMansions com cinco quartos, escadas de acesso, candeeiros imponentes e pórticos. Ao longo de dez anos efectuaram os seus negócios, porque durante dez anos os americanos compravam tudo com quatro paredes.
O dinheiro para o negócio provinha dos bancos.
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Neste contexto, é necessários saber que os empréstimos são a base de qualquer sistema financeiro e que o crédito é o tipo de negócio mais antigo do capitalismo. A pessoa "A" pede um montante emprestado ao banco "B", que "A" paga com uma taxa, o juro. Trata-se de um bom negócio para ambas as partes. O banco encaixa os juros e obtém um lucro considerável. A pessoa "A" pode investir o dinheiro do empréstimo p. ex. na compra de uma casa que de outra forma seria impossível. A presunção é de que "A" possa auferir o crédito de “B”.
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Como é possível a crise americana afectar todo o mundo?
Nos últimos anos praticamente qualquer americano podia ter um crédito atribuído. Os juros eram mais baixos que nunca e a procura de casas aumentava. Consequentemente também aumentavam os preços. Devido a esse aumento acentuado de preços os agentes imobiliários começaram a contactar empregadas domésticas ou trabalhadores sazonais cujo salário era de cinco dólares a hora. Explicavam-lhes: Se comprar uma casa por 200.000 dólares e depois não for capaz de pagar o crédito, não haverá qualquer problema. Os preços aumentam. Em cinco anos o valor da casa ascenderá os 300.000 dólares. Desta forma poderá levantar um novo crédito sob a casa e pagar o antigo. Nada pode correr mal…
Portanto, as empregadas domésticas e os trabalhadores sazonais acorreram aos bancos. E os bancos atribuíam os créditos. Eles sabiam que se não conseguissem reaver o dinheiro, não havia qualquer problema, pois assim a casa seria deles. Além do mais em cinco anos o valor aumentaria para 300.000 dólares. Tratava-se de um negócio que conhecia apenas vencedores, pelo menos enquanto os preços subiam. Por este motivo as empresas de construção construíam mais e mais casas, 1,2 milhões de casas, ano a ano. E, logo, o número de pessoas a pedir mais dinheiro para as comprar aumentava.
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Até acontecer o que o economista americano de renome, Robert Shiller, da Universidade de Yale descreve de forma lapidar: "A enorme oferta de novas casas saturou o mercado e os preços dos imóveis começaram a descer."
De um momento para o outro, milhões de americanos não conseguiam novos créditos para financiar as antigas hipotecas. De um momento para o outro, os bancos hipotecários americanos perceberam que não iriam reaver os elevados montantes que tinham emprestado. Era o previsível Crédito-mal-parado.
Este dinheiro está embutido nos imóveis impossíveis de vender. Está também nos bolsos dos agentes imobiliários e dos proprietários anteriores, que venderam as suas casas com lucros. Está nas mãos dos produtores de cimento, nos condutores das retroescavadoras e nos trolhas que, desta forma, provavelmente conseguiram comprar carros japoneses, frigoríficos de marca alemã ou brinquedos, para as suas crianças, fabricados na China.
São os bancos hipotecários americanos que agora têm falta de dinheiro, não os grupos financeiros alemães, ingleses e suíços. Então como é possível que as más especulações sejam perpetradas por bancos americanos e os institutos bancários em todo o mundo registarem perdas de 2,8 bilhões de dólares? Como é possível que o banco alemão Commerzbank necessite de uma injecção de capital de 8,2 mil milhões de Euros por causa de casas não vendáveis no deserto do Nevada?
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Max Otte já disse que para perceber a expansão da crise é necessário dirigir os olhares para a indústria financeira. Desde há semanas as suas palestras têm como tema o mercado de capitais e as bolsas mundiais. Fala da Wall Street, da América, sua segunda pátria, onde se doutorou, em Princeton, tendo leccionado em Boston antes de se tornar um cidadão americano.
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A indústria financeira é predominantemente constituída pelos bancos de investimentos, diz Otte. Bancos como Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley ou Lehman Brothers, cujos negócios se prendem principalmente com acções, empréstimos, opções e contratos a prazo. Na verdade não fazem nada de diferente de fabricantes de telemóveis, p.ex. Estão sempre à procura de novos telemóveis, ainda melhores. Os bancos de investimento procuram constantemente novos e melhores títulos de valor. Ambos ambicionam apenas uma coisa, vender os seus produtos.
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O produto que faz com que a crise se espalhe por todo o mundo chama-se Mortgage Backed Securities. O primeiro a vender este produto em grande estilo foi um banqueiro de investimentos natural da Itália e a residir em Brooklyn, Nova Iorque. Seu nome é Lewis Ranieri.
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As filas de cadeiras pretas do auditório Piper da Universidade de Harvard estão todas ocupadas quando Ranieri sobe ao pódio nos dias da crise. Tem 60 anos. Os cabelos e a barba estão grisalhos. No entanto a sua barriga que, conforme se consta, costumava ingerir Fast Food continua na mesma. Ranieri veio a Harvard explicar como tudo se descontrolou após a sua invenção. Coloca o discurso preparado à sua frente e respira fundo, depois pára e diz: "Bem, vou simplesmente dizer o que me vier à mente." Diz isso numa linguagem de classe operária de Nova Iorque. Ranieri não estudou em Harvard, nem em Stanford ou Princeton. Na verdade nem estudou, mas conseguiu ir mais longe que muitos banqueiros provenientes de universidades elitistas.
Há 30 anos os créditos eram objecto de especulação para os ricos.
Em 1968, com 20 anos de idade, iniciou a sua carreira profissional no departamento de correio do banco de investimentos Salomon Brothers, em Nova Iorque. A organização deste departamento foi tão eficiente que o banco lhe ofereceu trabalho como vendedor de títulos de valor. "Ele era desregrado, fala-barato e avarento", recorda um colega de então, "mas tinha o charme de uma pessoa que queria ser amada."
.Em 1978 Ranieri foi promovido a chefe do departamento de hipotecas do Salomon Brothers criado pouco tempo antes. Os bancos hipotecários americanos já tinham distribuído no país créditos no valor de 1,2 Bilhões de dólares. Já nesse ano, o mercado de hipotecas era maior que todo o mercado de acções dos EUA. Enquanto milhões de pessoas ganhavam com o mercado das acções, os créditos hipotecários eram um negócio entre duas partes apenas. O dinheiro ia do banco "B" para a pessoa "A" e vice-versa. Ranieri alterou isso. Ele fez do mercado hipotecário uma enorme bolsa, na qual qualquer um podia adquirir quotas das hipotecas em qualquer altura.
Ele transformou o crédito que "A" pediu ao banco americano "B" em título de valores. Assim, estes títulos já podiam ser vendidos ao banco alemão "C", ao banco inglês "D" e ao banco suíço "E". "
Começou assim... toda a CONFUSÃO Financeira!
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