Análise Temática
Da criatividade analítica da crítica político-social
Dos muitos “filmes” que se estreiam na WEB, e circulam por mails em várias direcções, este “dança de poderes” regista uma perspicácia subjectiva, subversiva mesmo, na assunção da realidade desdita, palpável ao olhar do simples “labrego”, mas também perceptível na subtileza lítica de qualquer intelectual, daí merecer esta composição artística, uma atenção mais pormenorizada, de mais minúcia.
Os actores designados, predominantes na actualidade, se de políticos ocorrentes se tratasse, mostram-se suspensos nos desígnios da vontade que fará o porvir, “O Último Pacto” qual ultimato numa assimetria aparentemente linear, mas que se contrabalança num triângulo perfeito e harmónico, como se observa no enquadramento cénico das posturas assumidas.
No eixo central e separando as duas figuras rivais, o governante e o opositor, governo e oposição, eleva-se com elegância o dignitário supremo da nação, acompanhando o seu par, e o passo, do primeiro ministerial, varão portuguesmente vestido à liça de Zé do povinho, numa roda de dança que implica o sujeito condutor e o conduzido, em perfeita harmonia – sem que pisem os “calos”, como se diz na gíria. Na tríada desta composição harmónica, o lado opositor ao duo dançante, revela-se uma figura feminina suspensa, mas por oposição à fulgurante jovialidade do par, traja roupa circunspecta, de lisura expectante – de viúva ou quiçá de amante. Reside a criatividade pungente nesta composição, a subversiva aquiescência no acto de transformar em paradigma, as figuras de mulher que são de facto homens. Assim, sai reforçado a ambiência que se infere na dualidade feminina, reportando o elemento “condutor” da dança, ao eixo da centralidade masculina das três figuras destacadas. A colocação dos nomes do elenco, logo abaixo dos personagens, dá disso mesmo uma pista, com a troca do nome do elemento central, como que posicionando o condutor da valsa no centro da representação.
O título sugere mais, reforçando ainda a ideia da ambiguidade, quando se diz o local mas se omite o dia da exibição e se antepõe o secretismo da ocorrência. Deixa pois, pairar a ideia de uma conspiração, mais que um secretismo, pelo reforço de um casto e derradeiro segredo não divulgado, um “passa a palavra” em surdina receoso. Baste esta expectação e entender-se-á o subversivo título escolhido “O Último Pacto Em Lisboa”. Poder-se-ia chamar de “ O Último Tango em Paris”… ou, “A Última Valsa”.
Aforismos à parte, não se trata de um último acordo político, esse é contido à percepção, apreende-se aqui outra transcendente percepção do sentido de “pacto”, algo mais subtil e furtivo, não perceptível por ocultação, porém, perceptível sensorialmente.Por último, a tonalidade com que se reveste o “quadro geral”, denunciando uma paleta d’Avinciana , mas também de Avintes, reporta o período político retratado para uma temporalidade Renascentista, burguesa até, fazendo jus à sobriedade na composição do estilo não só de Leonard D’Avinci , mas também de Goya, por não definir perspectiva nenhuma em segundo plano, reforçando a cor ocre, por justaposição ao branco, alvo da luz que releva para primeiro plano o braço condutor desta tríade-política, aqui retratada e analisada. Um único reparo, suscita talvez nesta data, a inexistência de um cravo rubro na encenação montada da actual democracia, mas tal, exigia uma morena de Grândola, um Zeca e um violão às 4 da madrugada.
Sem comentários:
Enviar um comentário